Edla Marinho

PROCURA

Procurei por mim

Em todos os cantos do meu jardim

Andei em alamedas...corredores

Colhi, pra aproveitar o tempo, Lírios...rosas...

Senti de todas as flores, o perfume

Vi  muitos beijos de beija-flores

Em seus beijos de costume

Mas eu, lá, não estava



Procurei por mim, então

Nas linhas do meu corpo pequeno

Toquei meus lábios...

E tocando-os, lentamente, com as mãos

Senti o calor do hálito, sereno

A voz, pela indecisão, ainda calada

Não me quis dizer nada



Resolvi me procurar na extensão

Lisa e macia de meus braços

Encontrei marcas de alguns abraços

Lembranças que até me tocaram o coração

Mas eram só mesmo vestígios

De um carinho bom ou mesmo artifícios

Para que eu, na ilusão, não me perdesse



Procurei em minhas mãos

Nas linhas quase enrugadas

Onde o tempo, louco, escreveu

Muitos acenos... despedidas

Alguns com tanta dor marcada

Outros nem tanto, só mesmo uma ida



Procurei em meus pensamentos e lembranças

Confesso que tinha muita esperança

Pensava: lá, certamente, devo estar!

Vi-me em muitas brincadeiras de menina

Pique-esconde ou pulando amarelinha

Inocente, não sabia sobre saudade

Nem da dor que ela traz

 

Continuando minha busca

Olhei com cuidado, bem devagar

Vasculhei todos os pontos do coração

Mas lá, também, eu não estava 

Resolvi olhar com mais cuidado

Para entender o porquê  de estar

Perdida nas lembranças, sem razão

Em todos os traços do tempo...da vida

Nas viagens de volta depois das idas

Foi, então, que no coração,

 

Em seu escaninho, 

Encontrei lá, bem escondidinho

Alguém que não sou eu

Pode até parecer loucura

O que esta busca me deu

Mas talvez só aos loucos, haja explicação

Para o amor que me seduziu

Que faz de ti, morador do meu coração

Desde sempre, eternamente...

 

Edla Marinho 

Dezembro 2018