Marcelo Veloso

ALI NA CALÇADA

Está ali, na calçada, ao relento.

Onde está o ser humano, seu irmão,

onde está a criatura, cria tua,

onde está o cidadão, o “se dá ou dão”:

- Que contradição! Que afronta à ação!

 

A retórica sobre a mendicância,

vai do gesto absurdo do descaso,

à insensatez da petulância.

A ofensa, sem dó nem piedade,

vai do despautério, da fala indócil,

ao banalizar-se na mediocridade.

 

Está ali, na calçada, ignoto.

Onde está a sensibilidade, ou só labilidade,

onde está a doação, e dói a lição,

 onde está o sujeito, sujo desse jeito:

- Que desafeição! Do que se diz feito!

 

A fecundidade sobre a indigência,

vai do olhar desprezível e de repulsa,

ao sublinhar da inteligência.

O pisoteio, que emburrece o caminhar,

vai do calçar as sandálias da rudeza,

ao deleite no escrachar.

 

Está ali, na calçada,

o exemplar do submundo,

errante, desguaritado, prófugo,

substantivado vagabundo.