E quanto ao que não foi vivido
Guardo na gaveta de cartas e bilhetes
Daquele velho criado falante
Que me trás a tona os luxos que não posso pagar
Assim é a esperança dos covardes
Que jamais purgam suas culpas de nunca, nunca tentar.
Agora aquele criado parece emudecer,
Engole o choro e prende o riso
Com ar de fidalguia e cara de burguês,
Ao lado da escrivaninha imagina o que poderia ter sido.
Pobre criado, está onde queria estar
Seus pés e pernas riscaram o chão do quarto
Deixaram marcas de um casmurro incólume
Que não ousou ser mais que criado, foi só mobília vendo a vida passar.