Samuel SanCastro

Criado

E quanto ao que não foi vivido

Guardo na gaveta de cartas e bilhetes

Daquele velho criado falante

Que me trás a tona os luxos que não posso pagar

 

Assim é a esperança dos covardes

Que jamais purgam suas culpas de nunca, nunca tentar.

Agora aquele criado parece emudecer,

Engole o choro e prende o riso

 

Com ar de fidalguia e cara de burguês,

Ao lado da escrivaninha imagina o que poderia ter sido.

Pobre criado, está onde queria estar

 

Seus pés e pernas riscaram o chão do quarto

Deixaram marcas de um casmurro incólume

Que não ousou ser mais que criado, foi só mobília vendo a vida passar.