eduardo cabette

O SOLDADO

O soldado

caminha pelas ruas

que deixara há tanto tempo

e aprendera a esquecer-se,

reprimindo o seu medo

das saudades.

Traz no peito

as medalhas conquistadas,

tons de ouro e prata

sobre o verde da casaca.

E no reluzir

dos metais ao sol

as pessoas julgam sentir sua altivez

e orgulho,

como que transbordando

de si para todos.

Alguém pode dizer

que ele procura

uma nova

batalha,

face ao seu andar firme,

tal qual marcha intimorata

mas ninguém,

lança olhar ao rosto

do soldado,

ofuscado pelo brilho das medalhas...

Há no seu rosto

um traço cálido

de dor,

uma taciturnidade,

uma obsessão...

Seu rosto

é a impressão

do que há debaixo

das medalhas,

da casaca,

da pele

e da carne.

O soldado

traz em si

a dor inenarrável

de sobreviver para lembrar-se  

da guerra,

percebendo que todos

apontam suas medalhas,

admirando e invejando-o.

Marcha o soldado

resolutamente,

fugindo do sol e

do brilho de seus louros,

buscando por alguém

capaz de ler em sua face

a vergonha de ser

Herói.