Matheus França

Passageira

A vida não é bela assim

Em frente ao espelho
paro com olhos fechados 
Vem em mim um medo que aumenta a cada suspiro 
 Uma sensação de que se eu abrir os olhos
 o reflexo me dirar algo verdadeiro
E eu não preciso que a dura verdade seja dita

Por um momento eu viajo
Vejo-me  em um teatro
Já no final da peça 
Não ouço nenhum aplauso, nem mesmo um grito de desprezo
Uma apresentação tão morna
Que não merece nada de ninguém 
Nem mesmo ser lembrada.

Não lembro qual foi o meu papel  e nem a minha atuação 
o que vejo são só rostos descontentes
Penso que se uma nova chance aparecer 
vou dar tudo de mim 
Vou entrar com alma
Ou talvez eu entrei 
E por isso acabou assim

talvez eu não preciso deles para ser aprovado
Ou talvez eu queira ser aprovado por eles 
Eu não necessito dos aplausos para viver, mas talvez seja minha vida pedindo algo para ser lembrada


Fecho os olhos e procuro algo a se agarrar 
Algo que me faça ficar

Então me vejo em frente ao espelho 
Agora já de olhos abertos 
Não existe teatro, nem platéia, nem mesmo o palco. Não existe talento, nem homens, mulheres ou crianças. 
Sou apenas eu,
Eu mesmo,  eu e minha tristeza, minha tristeza  esmagadora que me faz sentir vivo,  sentir sóbrio de toda loucura mundana.

Cuidado!

Vivo com gotas bem pequenas de felicidade 
Como pingos em meio ao deserto

Espero um dia embriagar-me
Ou morrer de overdose