eduardo cabette

A MENINA

A MENINA

 

          Ela era tão pequena,                      

         que não alcançava a mão da estátua,

          um velho retrato de homem esculpido

         no quintal da avó.

          Ia todos os dias,

          todas as horas das manhãs.

          Era um retrato de homem qualquer,

          Esculpido.

          Era o pai,

          era o tio,

          era o avô,

          era o irmão,

          era o futuro namorado...

          Ia todos os dias,

          só para olhar,

          só para correr ao redor...

           Pára de correr menina, você se machuca!

 Ela nunca se machucou,

 nunca parou.

 Foi todos os dias,

 até a cidade foi-se embora,

 para tão longe que nem a torre da catedral,

 se via.

 A avó; não a viu mais.

 Vovó morreu. Você não compreende?

 Está no céu!

 Foi-se embora!

 Igual a cidade mãe?

 Igual o retrato de homem, esculpido?

 Menina cresceu,

 amou,

 namorou,

 casou,

 teve filhos, um, duas, três.

 Teve decepções,

 antes e depois

 de amar.

 Cresceu e um dia voltou.

 No quintal, não mais

 o retrato de homem, esculpido.

A estátua sem cabeça,

sem mãos a alcançar.

Sua menina olhou,

correu ao redor,

quis as mãos da estátua,

não alcançou.

A menina; mulher.

A estátua; deformada lembrança.

Sua menina pulou, pulou...

não alcançou as mãos.

Ela beijou o marido,

 Vem embora menina!

Foi-se embora, a menina.