Por muitas vezes deixei de dizer o que sentia, o que eu queria ou não queria fazer, por muitas vezes aceitei em silêncio, a dor do peito, o ar rarefeito, a solidão do meu quarto quando estava a sofrer. Um dia eu descobri a poesia, uma espécie de magia que me obrigava a escrever, a partir de então, eu dispensei a razão, tirei os pés do chão, e reencontrei o prazer.
Por muitas vezes deixei de dizer o que sentia, mas tudo mudou quando percebi que a poesia fomentava em meu mundo a oportunidade, mesmo que tardia, de voar por aí, encontrar novos mundos, sentimentos profundos e outros universos. A poesia nos permite voar, posso ser passarinho, beija flor sabiá, posso cair do ninho direto no mar, encontrar uma sereia, uma ilha conquistar.
Por muitas vezes deixei de dizer o que sentia, então percebi que na poesia eu poderia gritar, eu poderia cantar, em algumas poesias eu ousei dançar, porque o texto permitia, e tudo que eu queria era às vezes ousar. Nas entrelinhas da poesia eu ousava com maestria, experimentava num dia, sonhos da vida inteira, e de alguma maneira ajudava sonhar.
Por muitas vezes deixei de dizer o que sentia, foi quando eu percebi que na poesia as palavras ganham vida, elas saem da ponta do lápis, do teclado ou de um pedaço de giz, elas voam, elas voltam, elas sempre pintam um novo matiz, de prosa ou versos, de sentimentos diversos que fazem o mundo um pouco mais feliz.
Jose Fernando Pinto