Artur Curadete

O MUNDO E SEUS ENCANTOS

Ando num passeio incerto pelas tuas curvas,

 Ah doces sublimes curvas,

Óh glorioso Mundo!

Como carregas tal ser imundo;

Que me brilha os olhos,

Que me arrepia todo o ventre.

Que me incendeia os pensares

Adentre a mente.

Hei de correr com ódio pelo teu corpo!

Hei de pisar em cada parte,

Cada canto;

Ceifando assim teu encanto

Como aspiro nesse aparte.

Ah!... Meu mundo! Mas como te amo!

Piso-te..., mas amo-te ainda mais firme;

Amo-te não só, amo-te ao lado dos meus irmãos de carne às tuas belezas.

Oh! Como a beleza se faz mundo sobre nós,

Como nos tange o palato com tanta doçura,

Como nos faz salivar a boca e arrepiar a alma,

Óh! E como aprecio tua beleza de forma tão feia,

Tão amargamente selvagem e atroz,

Gozando como a abelha vomita o mel,

Tão grotescamente prazeroso e meloso que me dilata as papilas,

Grotesco, como o doce sopro de mel ao nascer.

Óh! Mas e oque sentes tu, Mundo!?

Oque tu vês belo nesses teus olhos que transbordam?

Ainda consegues sentir o mel dos favos?

Ainda vives os prazeres teus?

Sim, teus...

Pois são somente teus e de mais ninguém!

Mostra tua feiura ao menos uma vez meu doce mundo!

Alinhe as tuas curvas incertas ao menos uma vez!

Alinhe-as para curvas ainda mais incertas,

Mais sem destino,

Mais sem seriedade ou sobriedade,

Entorte-as como as rolhas fazem aos dentes dos homens;

Cuspa os dentes fora!

Beba a bebida imatura que queres beber.

Bebe... É teu desejo e de mais ninguém;

É teu palato e de mais ninguém!

É teu gozo e de mais ninguém!

É o caminho do descaminho para todos.

Bebam dele, gozem dele, pisem-no com rancor e amor,

Cuspam os dentes que se soltarem sobre ele,

Vomitem o mel fugaz da vida nele;

Ele bebe disso, das incertezas...

E não há como haver incertezas enquanto não se procura certezas.

Então festeje teu caminho, faça-o tua gloria e seu mundo,

De beleza feia e grotesca, mas que lhe agrada as papilas,

Que lhe brilha os olhos,

Que lhe incendeia âmbares os pensamentos...

Nasça em teu não caminho e sorria frente às imperfeitas belezas sublimes.