Matheus França

Sábado

E no preço de  cada palavra 
me via mais distante 
E no peso de cada lágrima 
Eu me sentia tão distante 
Não é que vou parar 
Ainda tenho muito pra dizer
Mas é tão ruim escrever sobre a faca que te corta 
E o algoz dessa história estar no espelho agora  a me observar 
O protagonista tinha que ser eu
Só que as feridas roubaram meu lugar


E se eu for um cara médio, mediano, medíocre se o que me falta é coragem 
Sou feito de medo
Sou todo covarde

Se o mundo me pisa 
Porquê sou assim
Se a dor que me aflige é para despertar algo maior em mim

Se eu pudesse voltar a 10 anos 
Eu me pararia na rua e de modo não tão delicado falaria que a dor seria constante e que ela existe 
Que a dor eterna existe
Que poderia sim
Existir um buraco no meu peito
Eu me abraçaria com muita força 
Falaria que as coisas um dia poderia melhorar
Falaria para eu esperar mais um pouco
Que talvez tudo aquilo iria passar 
Mas pra eu esperar pelo pior
Pois foi a esperança que me matou

Depois de dizer tudo isso
Eu iria embora 
Mesmo sabendo que não mudaria em nada


Eu nasci em um sábado 
Em uma simples casinha na zona rural de uma cidade do interior 
O parto foi feito pela minha vó 
O dia era lindo
Respirei pela primeira vez 
Sentindo a vida 
Sem saber que viver era dor 

foi naquele sábado   que pude conhecer a pessoa mais forte que já conheci 
Foi no sábado que eu nasci 

 

Naquela noite o frio misturava com o calor que me assombrava 
Saberia que logo receberia uma notícia ruim
Talvez algo tentando me conter 
Logo veio  uma ligação 
Nem precisei ouvi -la 
Desabei
O mundo não estava mais em baixo
Pude sentir todo o peso 
O desequilíbrio 
A dor que ainda sinto
Senti pela primeira vez 
Naquela noite onde tudo em mim doía 

Tentei de toda forma ajudá-la 
Rezei de toda forma para salva-la
Nada adiantou
Dor mais forte não sentirei 
Ainda não sei
Foi no sábado que eu morri e continuei vivo

 


Não sei como acumulei tanta dor e frieza
Também não sei ao certo onde guardei o primeiro rancor
Mas sei quando  o estopim foi aceso
Foi naquele sábado 
Onde a vida apareceu 
Ou quando ela acabou