Nasceu a flor do deserto
Com pétalas de sonho!
E no enorme reino do nada
Sua beleza abençoada
Ela não tinha a quem mostrar.
Vinha às vezes o vento.
Mas esse ser apressado
Não dispunha de tempo
Para admirar o enfeite do solo árido.
Mas notou a criaturinha do chão
No céu um grande clarão.
Era um astro de luz e calor
Que surgia toda manhã
E parecia estar ali só para contemplar
A solitária flor.
Ela, vaidosa, ávida para se mostrar,
Punha-se elegante em sua inércia
Para encantar o astro a passear.
Era um espetáculo fascinante!
A areia branca sem fim,
O céu azul, gigante,
A florzinha de pétalas de sonho
E o sol brilhante como espectador.
Sentia-se o pequeno vegetal
A grande atriz no palco da vida!
Sua plateia solitária, o sol,
Até se virava no firmamento
Para ver melhor a artista do deserto.
Assim pensava a flor - princesinha
Que, cheia de contentamento,
Exibia-se em cores de harmonia e beleza.
Mas o sol, na verdade, era indiferente
À nossa pequena heroína.
E com seu olhar arregalado e quente
Começou a ser malvado com a pobre menina.
Ela, por sua vez, não entendia
Porque sua beleza se esvaía
E suas forças a abandonavam
Fazendo-a curvar-se um pouco a cada dia.
Já não se via mais
Como a rainha daquela vastidão de areia.
As pétalas feitas de sonho
Tornavam-se secas de morte.
Estava a flor à mercê da sorte,
Dos raios cruéis de seu carrasco.
Sem água para amenizar o calor,
Sem alimento para saciar-lhe a fome,
Caiu, então, vencida, sob o olhar impiedoso
Do astro majestoso.
Morreu a flor de pétalas de sonho,
Queimada pelos olhos de seu único observador.
E eu arriscaria dizer que ela
Por ele sentia amor.
Vestia-se bela para o distante namorado
Que, mesmo sendo sol,
Tinha o coração gelado.
E as pétalas de sonho de nossa pequenina
Transformou em morte.
Esse sol que queima sonhos
Foi alguém que passou em minha vida.
E as pétalas de sonho da indefesa flor,
Mortificadas pela indiferença,
Eram meus sonhos,
Minha ilusão de amor!