Se eu pudesse acabaria com sua dor, arrancaria do seu peito essa tristeza e mandaria para longe todo o desamor que se esconde por trás desse sorriso que você bota no rosto, na tentativa de evitar ter de explicar os seus motivos pra sentir o que sente, pra pensar o que pensa, viver o que vive.
Se eu pudesse, te cobriria em um daqueles abraços aconchegantes e te diria pra não se preocupar com esse mundo tão cruel, que esperasse o sol nascer, ou se por, ou ter sono ou fome, e eu te traria o conforto, a comida e a beleza que você sempre ansiou por ver, mas nunca teve a chance de experimentar. Mas hoje eu não posso fazer nada por você. Sequer algum dia poderei.
Então eu sinto muito. Sinto por você e por mim, que sou obrigada a conviver com a pequenez que tenho diante desta gigantesca teia de situações que não posso mudar, mesmo querendo com toda a maldita força do meu ser, mesmo enviando as malditas boas energias que todos dizem fazer uma fenomenal diferença. Ao fim, sinto por todos que são obrigados a serem seu próprio conforto, seu próprio ombro amigo, sem terem nenhuma expectativa de compreensão daqueles que, na teoria, deveriam ser a base responsável por escancarar as belezas e ternuras naturais à vida. Que encontrem a improvável felicidade que, mesmo sendo tão visada por muitos, é experimentada por tão poucos. Que haja outra vida, outra chance, outro túnel iluminado e que, neste, você deixe de ser apenas mais um número nas estatísticas e se torne o que nasceu para ser.