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Antonio Olivio

Cidadão de rua

Talvez  em algum tempo,
Eu tenha sido um doutor,
Ou um operário demitido ,
Um empresário falido.


Quem sabe eu tenha sido alguém,
Alguém que tenha lido livros,
Que talvez tivera amigos,
Ou namorada ,ou esposa e filhos.


Pode ser que tenha sido estudante,
Que se perdeu das coisas importantes,
Que sou filho, tenho certeza:
Da minha mãe a natureza.


A rua , é a minha casa nua,
É lá  que te encontro e você não me vê,
A minha sala é a calçada por onde,
você passa sem pedir licença,
tapa o nariz e finge a minha ausência,
O meu teto é a marquise
Do prédio,  da loja , da torre ,
Os viadutos me abrigam ,
As praças me acolhem,
Os papelões me engolem,
O frio aquece a minha solidão.


Talvez eu seja um Deus,
Que tenha se travestido em trapos,
Que esteja te vendo sem  véus,
Olhando pra sua alma fria,
Sentindo a sua repulsa,
Guardando a sua migalha,
Colhendo a sua miséria.

Antunes Oliveira