Ê pandeiro véi
Em teu couro
Vi o dedilhar de amores
Vi o mundo
Vi as cores!
Eh pandeiro véi
Tu andas sumido
Trocou teu nome
Andas inibido
Agora é uma tal de pandemia
Que em teu colo desafia
E hoje com ar da nostalgia
Lembro de tu e das Pradarias
Em tua vasta história
Em teu reinado relvado
Sem árvores ou arbustos
Sinto dó do teu calado
É na relva inda suada
É na planície inda plana
É dentro de ti a minha Iracema
Que vem a doce calma e serena
E tua pele esticada
De alma plena e lavada
Com teu choro de toque final
Tua voz brejeira e marcante
Que chega de mansinho
Após a entrada do piano
E tu lá vem devagarinho
Suada melodia com tuas sualhas
Te vi e ouvi sob Arcos da Lapa
Ou no bar da eterna Mocinha
Vinhas tu descendo a ladeira
Pedindo passagem, compasso e linha
Me rebaixo ao baixo do teu som
Na encosta do teu dedilhado
Fazendo referência ao passado
Clemente e cheio de precondia
Meu amigo pandeiro
Compartilhes tua dor
Teu canto de saudade
Mesmo que eu não seja merecedor
É tua a derradeira voz
Por vezes mal entendida
De nostalgia e precondia sem algoz
Encostada na cuica desenebida
E quando voltares a avenida
Ah pandeiro véi
Eu e tu sem medidas
No giro mundo de vidas
E os dedos voltar a te dedilhar
Dançando sobre teu sonoro piso
Do couro belo e curtido
Daquele que começa no canto
Meio sem querer
Meio inibido
Vindo mas não esquecido
Manso e quase escondido
Muito depois do bandolim
Muito depois do cavaquinho
Esperando a nota do violão
Do nobre piano ou do baião
Entras tu pandeiro devagarinho
Feito pássaro ao sair do ninho
Feito doce de avó
Feito calor de paixão
Feito homem passarinho
Aprendendo com a desilusão
Desesperado pra te escutar
O entrar do teu canto
Doido pra fazer parte do teu suar
Entrar com o bailar do pranto
Ah pandeiro véi
Multicores
Desabores
Meus amores!
14/05/2020
Estado de Graça do meu Cariri
Roberio Motta
(Em homenagem ao colega Lemme)