Ainda não é tão tarde assim
Mas já sente que a vida vai lhe deixando em gotas
A cada sono e despertar difíceis e vagarosos
Cada minuto em que se dá pressa mais lhe aproxima do fim
Á visão próxima da muralha
Porém por impaciência ou curiosidade
Não lhe veste a convicção que de fato irá acontecer
Mas não com ele
A transitoriedade, a ideia de destino que lhe era vago e alheio na infância
Por prodigalidade de vida e de tempo
Era um desperdício feliz
Mas agora não,
Mais e mais o pensamento do limite e do absurdo
Tornaram-se visitantes regulares
Indesejáveis mas irreprimíveis
Esquece e lembra
Lembra e tenta esquecer com um meneio
Negaceio conveniente
Não acredita que tudo lido e vivido
Em breve não serão nada
Talvez o escrito, registro da sua passagem
Tudo um bafejo de lembrança que breve irá se evaporar
Uma névoa efêmera
Para onde se derrama esse caldo de vida?
Para onde escorre tudo que foi experimentado
Sentido e observado
Tudo que nos traz essa certeza férrea
Eu vivi?
É cedo, mas a noite já vem
Calma ainda não
Espera, foi tudo muito rápido
Ainda que fosse imortal
Quero ficar mais um pouco...