Marcelo Veloso

QUANDO A CASA CAIU?

                                                        (Do concreto armado ao concerto airado)

 

Quando a casa caiu?

Quando o alicerce ruiu,

quando o barranco cedeu,

quando a bomba explodiu,

quando o terror aconteceu,

quando o fogo destruiu,

quando a terra tremeu.

 

Quando a casa caiu?

Quando a enchente levou,

quando a vala se abriu,

quando o trator derrubou,

quando o grileiro demoliu,

quando, do imóvel, a família expulsou,

quando a injustiça se cumpriu.

 

Quando a casa caiu?

Quando o bandido foi preso,

quando a maracutaia foi descoberta,

quando não mais se saiu ileso,

quando a comida ficou indigesta,

quando não aguentou mais o peso,

quando se acabou, de vez, com a festa.

 

Quando a casa caiu?

Quando a mentira apareceu,

quando a verdade veio à tona,

quando a base escafedeu,

quando o nome, de cada um, saiu na listona,

quando, muitos, um grande baque sofreu,

quando, enfim, acabou-se com a zona.

 

Quando a casa caiu?

Quando o discurso ficou evasivo,

quando a conversa perdeu o sentido,

quando o respeito se enodoou lesivo,

quando o miliciano foi contido,

quando se fez, da vida, mais um arquivo,

quando o dia se consumou, enfim, perdido.