Elfrans Silva

O CUPIDO VESGO

O CUPIDO VESGO 

Ferido  estou pela flecha em zig-zag
De\'um Cupido que talvez se embebedou 
Peço ao céu que desta vez à ele pague
Com o feitiço com que me enfeitiçou 

Não podia ter errado tantas vezes!
Já está velho ou foi fundo num litrão?
Eu, de boa, esperando quem me preze
E tu vens pra arruaçar meu coração? 

Sei que levas no carcás setas agudas
Para ferir, suscitando amor, paixões 
Calma lá, pelo menos uma vez escuta:
Não preciso ouvir quaisquer opiniões 

Desde quando um piá grego, alado
Tem moral pra intervir em sentimentos?
O teu gênio insensível e descuidado
Não garante à ninguém bom casamento 

Quando queres capricha nos benefícios
Concedendo aos casais felicidade 
Vênus sempre a burlar os teus feitiços 
Combinando malícia e deslealdade 

Eu sei lá se te puniram a dualidade 
Estando tu, de Psiquê, enamorado
Prometera à ela amor, suntuosidade
Desde que fosse o teu rosto preservado 

Mas as irmãs dessa tua deusa amada
Deram conselhos, estando tu dormente
Foi ver teu rosto numa hora combinada 
Te acordaste e sumiu dali pra sempre 

Convenhamos! Que culpa tenho eu
Se teves, garoto, um ponto negativo?
As tuas flechas toda vez que remeteu
Me fez, no amor, ser abusado e emotivo 

Quando eu amo, entre acertos e tolices
Ao ver, no fim, que nada bom me sobejou
Fico pensando que só pode ser vesguice
De um Cupido que por erro me acertou

É normal eu padecer desses percalços 
Se eu cresci acreditando só no amor?
Surpreso estou ao colher tantos fracassos 
Quando alvejado pelo Anjinho voador!

Filho de Marte, te peço, um dia prove
Por que o bem nos custa tanto nesta vida
Se por amor um vive bem e o outro morre
Tem algo a ver com uma seta descabida?

Quanto é bom a gente amar e ser amado
Mesmo que cause no peito outra ferida
Se dá tudo certo é que algo está errado 
Fleche de novo que tento outra investida 
  
Se forem dardos de sentido equiparados 
Pode lançar-me até mesmo uma dezena
Se me ferir só pra me ver mais magoado
Te aparo as asas arrancando pena a pena