Cecilia

VIUVEZ

Você abre a porta, esquecida da hora,

ninguém mais estranha a sua demora.

Vaidosa, capricha na sua elegãncia

à qual ninguém dá a menor importância.

 

Você dorme tarde, a cama é tão fria!

Em quem encostar, se o medo arrepia?

A quem confiar sutís desenganos,

as contas, os sustos, os sonhos, os planos?

 

Você está farta da casa em silêncio, 

de vinho sem brinde, de noite sem beijo.

Sensata, procura calor e alegrias,

mas há dias cheios de horas vazias.

 

Viver cada dia é um velho costume.

Em paz, com saúde, engole o queixume,

inventa coragem, disfarça a saudade.

A vida ainda é boa, só falta a metade.