Roberio Motta

Terno de Couro

O melhor de tudo

É o cafuné 

Feito tempo de dibuia

De fartura no sertão 

 

Feito tempo de menino

Da carrapeta e do chiado

Feito dengo arrochado 

Na rede do chamego devasso

 

Isso tudo me faz lembrar

O ofício e a tradição

Dos curtumes inda presentes

Nas doces horas de solidão

 

Era a Família inteira

Na arte do curtimento

O salgar após a esfola

O remolho é passo da ribeira

 

Traz fulano o couro inda cru

Calado onde antes era capa de boi

Hoje é no fulão que começa o caleiro

O curtir e o tingir de choro suado

Amaciando o que será ouro

Transformando o meu sentir

Em um belo terno de couro

 

O sorriso e o curtir

O chegar e o partir

O crescer e o esperançar

E os irmãos a prosperar

 

Saudades da alcaçaria

Dos valores como o trabalho

Da honra e fidalguia

Da sina hoje nostalgia

 

Pele fria feito meu suar

Mistura tua capa inda coberta

Até cair com a cinzas o que foi teu

Seis dias e seis noites

Depila no esturricado sertão

Pra se tornar arte que prometeu

 

E a sovela cansada

Fazendo furo a furo

Preparando caminho pra linha

Que entrelaçará nossa costura

 

O caleiro hoje só

Purgando onde dantes foi curtição

As fazendas hoje esquecidas

E no reflexo do açude velho

La estão as chaminés da reflexão.

 

Terno de Couro, por Roberio Motta

Em 12 de Julho de Vinte e Vinte e 1.