Meu Escuro

A Montanha que Cedeu

 

Como é ver as rosas do seu jardim

Se tornarem videiras pontudas e afiadas?

Como é ver o trigo de seus plantios

Serem tomados por joios inseparáveis?

 

O carinho que parece arranhos de gato

Que deixa cicatrizes por todo o corpo

O abraço que parece vinhas espinhosas

Te ferindo e te sufocando sem o ar

As palavras que parecem flechas de veneno

Te destruindo de dentro para fora

 

A tempestade mais forte que já se foi

Levou o meu mais precioso tesouro

Me deixou de joelhos, sem ter direção

Desajustou o ponteiro da minha bússola

Deixou o meu mapa resumido ao pó da terra

 

Como prosseguir sem olhar as estrelas agora?

Como continuar sem poder molhar os pés?

Como seguir sem a calmaria da chuva?

Como proceder sem olhar o Sol?

 

Do mais profundo poço posso cair

Do mais profundo mar posso me afogar

Da mais alta montanha posso ceder

Da mais funda areia posso embargar

 

Mais simples é deixá-la afundar sozinha

Do que cair junto a dentro do buraco