Esquerda não é de Deus.
Direita, também não. .
\"Tenho assistido surpreso a uma certa onda teológica favorável ao liberalismo de mercado, numa tentativa de praticamente sacralizá-lo. A ideia central, porém, é uma decorrência da iniciativa de demonizar o pensamento de esquerda, como se ele fosse oposto a Deus e às diversas manifestações de fé.
Deus não é de esquerda ou de direita. Pensar assim é blasfemar contra a Sua soberania e poder. Ele transcende toda compreensão humana e é grande demais para caber dentro de uma ideologia.
Temos experiências boas e ruins no trato de governos de esquerda para com o Cristianismo. Contar só a parte nefasta não me parece honesto. No Brasil, por exemplo, as igrejas evangélicas experimentaram o maior crescimento da sua história nos governos petistas, agraciadas inclusive com isenção fiscais.
Historicamente, diferentes regimes de governo foram responsáveis por ditaduras, assassinatos e promoção de profundas mazelas sociais. Mas é preciso frisar: Todos esses males nunca foram exclusividade de apenas um campo ideológico.
A direita e a esquerda guardam no escopo das suas afirmações propósitos que jamais deveriam ser vistos como ruins. Resguardar as liberdades individuais ou enfatizar o papel das preocupações coletivas, com mais ou menos presença do Estado, objetivam, em última análise, um mundo mais justo. Pelo menos na teoria.
Ocorre que as visões divergentes, no meu ponto de vista, esbarram num problema comum: a natureza humana. Aqui reside, portanto, aquela que entendo seria a maior contribuição da Teologia junto às ciências humanas: Lembrar que a corrupção inerente ao coração humano inviabiliza aquilo que há de melhor no pensamento ideológico, seja qual for ele.
O erro, portanto, está em querer demonizar algo pelo simples fato de não gostar ou concordar com um modelo. Este maniqueísmo jamais produziu bons frutos para o mundo e, muito menos, para os cristãos.\"
( Entre aspas, trechos do texto: \"A demonização da esquerda\" de Clériston Andrade.)