Edson Alvez

INSÓLITO

Ele então rasteja livre

Olhando o horizonte

Tentava, invernos e outonos

No galho subir ao alto

 

Lá vai o insistente

Falavam outros caramujos

Subir no último galho

Para ver o sol poente

 

Chegava então o inverno

Ele voltava pra casca

O vento uivando no topo

Ele então ficava só

 

Esperando ali o sol

Nos entre-meios do tempo

No próximo verão eu subo

Lá pro alto, como o vento

 

Tentou, nos dias, nas noites

Se esgueirando pelos cantos

Andou, ali como tantos

Se agarrando na certeza

 

Caiu, como tantos caem

Ficou por dias aflito

Esperou secar o tempo

Pois dependia do vento

 

Chegou então o inverno

Voltou para a sua casca

Fosse outro, noutras eras

Desistia tal intento

 

Não costumava ao lamento

Se apegar com exatidão

Pois sabia, no verão

A sorte era mais exata

 

Certo dia, sol a pino

Buscou o galho, furtivo

Pois sabia era preciso

Se correr ali o risco

 

Notou que as folhas caíam

Chegara enfim o outono

Fosse agora ou era inverno

Voltaria para a casca

 

Nunca esteve ali tão alto

Parecendo flutuar

Passou por folhas e musgos

Sem parecer caramujo

 

Lá no alto ele subiu

Feito poema e viu

O sol se pondo bonito.