Ele então rasteja livre
Olhando o horizonte
Tentava, invernos e outonos
No galho subir ao alto
Lá vai o insistente
Falavam outros caramujos
Subir no último galho
Para ver o sol poente
Chegava então o inverno
Ele voltava pra casca
O vento uivando no topo
Ele então ficava só
Esperando ali o sol
Nos entre-meios do tempo
No próximo verão eu subo
Lá pro alto, como o vento
Tentou, nos dias, nas noites
Se esgueirando pelos cantos
Andou, ali como tantos
Se agarrando na certeza
Caiu, como tantos caem
Ficou por dias aflito
Esperou secar o tempo
Pois dependia do vento
Chegou então o inverno
Voltou para a sua casca
Fosse outro, noutras eras
Desistia tal intento
Não costumava ao lamento
Se apegar com exatidão
Pois sabia, no verão
A sorte era mais exata
Certo dia, sol a pino
Buscou o galho, furtivo
Pois sabia era preciso
Se correr ali o risco
Notou que as folhas caíam
Chegara enfim o outono
Fosse agora ou era inverno
Voltaria para a casca
Nunca esteve ali tão alto
Parecendo flutuar
Passou por folhas e musgos
Sem parecer caramujo
Lá no alto ele subiu
Feito poema e viu
O sol se pondo bonito.