Jonas Teixeira Nery

Esse velho

A vida passou!

Passou escarando feridas, desejada de emoções,

lacerada por estas rugas nesse tempo, essa vida.

Ficou tarde demais nessa desordem, essa vida!

 

Passou acometida de anseios, tantas vidas.

Desconcertado permaneço nessas penumbras.

Torturado na constatação desses precários dias,

nesse manso declínio, entre livros, noites e sonhos.

 

A vida passou entre descaminhos!

Entre assombros, sentindo o tempo, nessa velhice,

nessa contemplação estéril de meus passos trôpegos.

Eis que percebo esse deserto, nesses sobressaltos!

 

Passou na indiferença desse caminho desmedido,

entre semblantes tristes, ásperas mudanças,

alcançando esse corpo solitário entristecido,

nessas memórias desprovidas de sentido.

 

A vida passou sem amargura!

Levou meus amores, trouxe-me outonos em sigilo.

Um cansaço é o que fica nessa vida desconforme,

vida de passos errantes, nesse quadro triste, desmedida.

 

Passaram-se os tempos, nessa velhice atroz.

Luta permanente nessas noites pálidas, bocejantes,

sem espera, nem promessas, segregando insônias,

nesse corpo curvado, sem medo, nessa indulgência.

 

A vida passou por aqui!