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Rosália da xepa

 

Rosália da xepa

 

Uma coisa certeira é que em dia de feira,

descendo a viela, batendo canela,

vinha a Rosália arrastando a sandália,

passava toda contente, sorrindo pra gente,

e dava-nos um bom dia, com toda a sua alegria,

sempre era a primeira, chegava cedo na xepa do fim da feira,

para com qualquer feirante poder conversar bastante,

brincava feliz e ria enquanto da xepa se servia,

todo feirante a ajudava e alguma coisa boa lhe guardava,

era nesse instante que a querida visitante

algum presente ganhava e deliciosas frutas levava,

saía de sacolas cheias, não tinha verduras feias,

era tudo presente para essa lutadora persistente,

emocionada Rosália agradecia e com uma bênção retribuía,

e isso porque sabia que hoje seu filho comeria.

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A nossa Rosália faceira, que era a alegria da feira,

voltava para o seu morro, na vila do socorro,

o corpo carregado doía, mas do filho faminto não esquecia,

pensava: _hoje o menino vai comer pra ficar forte e crescer,

_vai ter vontade de estudar e um bom trabalho encontrar,

_um dia uma moça boa vai conhecer um neto ainda vou ter,

_a criança será estudada pra jamais sentir-se humilhada,

_para que ninguém nunca lhe pise e que pedir na feira não precise,

assim Rosália levava a sua vida, com esperança e muito agradecida.

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Mas um dia o sonho acabou, foi quando seu chão desabou,

o céu revolto anunciava a chuva que logo chegava

assim que escureceu Rosália para casa correu

rapidamente o morro subiu foi quando aquele temporal caiu

e o desastre aconteceu, então, foi o morro que desceu,

desesperada não acreditou, que a lama do morro seu filho levou,

tudo que tinha se perdeu e um pedaço dela ali morreu,

pobre Rosália desceu a ladeira, triste com a vida traiçoeira,

e com olhar profundo desistiu daquele mundo,

Rosália nunca mais sorriu, na feira ninguém mais a viu,

mas lá até hoje ainda é lembrada, mal sabia ela o quanto era amada.

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Existem muitas pessoas,

que são simples, puras e boas

que trabalham, sobrevivem, batalham

e não encontram a boa sorte que se merece

aqui eu rogo por elas, e em silêncio elevo uma prece.