Marçal de Oliveira Huoya

Sépia

Com sépia naquele olhar

Uma luz veio clarear

Uma imperfeita sintonia

Foi o parto do anacrônico

Não foi mais trágico

Porque foi cômico

A sensação do desdém

Como se não visse ninguém

Um sorriso espontâneo

Olhar para cima

Ah, a alma é feminina...

Nem foi percebido por alguém

Um flash, um insite instantâneo

Abrindo a porta da prisão

Fazendo mal, trazendo o bem

Tirando o peso do coração

Soltando as cordas do refém

De súbito veio a história inteira

Versos, poemas e personagens

A tela borrou todas as imagens

Tudo foi só uma brincadeira

A constatação de que se o amor havia

Era natural haver a assimetria

Mas o ser deixou de ser

A criatura sentiu e se transformou

Se desligando do criador

O espelho começou a derreter

E toda a maquiagem lhe borrou

E mesmo que não fosse acontecer

O dissabor não é bom ator

Um novo sentimento floresceu

O que era vivo já viveu

E se alguma coisa não morreu

O que sobreviveu não foi amor...