Uma nuvem escura
Águas cairão em chuva
Ventos hostis, tempestade
Era pó naquelas estradas em que estive
Vislumbrava, ouvia, as paredes ao chão
No céu escuro, uivos, rasgos e um clarão
Os mísseis vibravam as nuvens de Kiev
O frio castigava, nem o fogo aquecia
Fogo dessa guerra que tanto entristece
Para eles é Kiev, para os invasores Kiev
Mas há flores ainda e a rima não perece
Para nós apertados, livra-se em poesia
Naquelas plagas barricadas das guerrilhas
Citadinos entrincheirados levantam punhos
A coragem é o escudo que se faz proteção
A dignidade blinda o espírito nessas trilhas
Desdobra-se o dia carente de novos rumos
Sem tiros nos versos, sem fuzil ou canhão
No canto emboscado, não se rendia
Os corpos deitados, tombados em morte
Os sonhos roubados, vazios sem norte
Em versos cantados, louvores da sorte
Para nós apertados, livra-se em poesia
Era poder das políticas e indiferentes versões
São decisões distantes da vida e dos sonhos
Da alegria de um olhar e semblantes risonhos
No céu impuro, uivos, rasgos, mortes e clarões
Ventos hostis, tempestade
Águas cairão em chuva
Uma nuvem escura