Nunca me escrevi uma carta...
Mas se assim fizesse, seria franco em apontar minhas queixas sobre mim, um tanto assim
Não me pouparia jamais e isso não seria crueldade, deve ser sempre bem recebida, pois, a verdade
Para me achar mais absurdo, eu faria reparos em vários dos meus critérios e declararia muitos dos meus mistérios
Alguns segredos para que me conhecesse mais profundamente eu revelaria, clareando-me um pouco das sombras... Ruborecido um boncado eu ficaria
Quem não possui algum segredo que gostaria de apagar ou deixar oculto em degredo?
Para me agradar, temperaria o discurso com um pouco de encanto, pois bem sei que das letras que seduzem eu gosto, e meus versos seriam desamarrados todos
Eu teria muito a dizer e muito me diria, escrever-me-ia com rigor do melhor uso do vernáculo para tentar me impressionar e, por certo, impressionar-me-ia
Pois percebo que gosto do capricho da escrita e da sensibilidade de sentidos que possam ser dados às frases ditas e das tantas ideias guardadas em embriões de poesias ainda não ditas
Eu poderia bem trazer algumas palavras novas ou o sentido delas com recursos da minha criatividade mudar, e até outras palavras inventar, com malabarísticos e sonoros arranjos neologísticos, para que eu percebesse que meu próprio eu pudesse fazer-se sorrir
Sorrir com coisas que pudessem o mundo engraçar, como trava língua ou trava mente, do paladar travoso do verso saboroso do umbu cajá, ou jogos assim travantes para nos divertir simplesmente...
Algumas lembranças lembradas em palavras belas poderiam facilmente me arrancar algumas lágrimas, sei que sou emotivo e propositadamente iria explorar esses recursos nessa carta, nessas linhas, nessas páginas...
Certamente eu iria gostar da atenção da própria lembrança se a mim escrevesse uma carta!
Nunca me escrevi uma carta...