O que sobra no prato,
é o retrato da ganância,
que mostra bem a distância,
entre a fartura e a mesquinhez,
entre o desejo e a volúpia,
entre a doação e o descaso,
que frita a decência,
e assa a caridade em ato raso.
O que sobra no prato,
é o ornato da insolência,
que demonstra como há ineficiência,
entre a disposição e a concessão,
entre o sentimento e a ajuda,
entre a opção e o tratamento,
que apodrece a empatia,
e descarta o respeito como um excremento.
O que sobra no prato,
é o substrato da estupidez,
que faz distinção, com acidez,
entre o apoderado e o desvalido,
entre o escorreito e o pechoso,
entre a crueza e a ternura,
que intoxica a gratidão,
e joga no lixo a brandura.
O que sobra no prato,
não são apenas restos, dos excessos,
nem arestos de processos,
nem a vicissitude irônica,
é o lampejo da idiossincrasia,
que nem semeia nem brota fruto,
pelo enraizado fugaz na carestia.
O que sobra no prato,
é a indelicadeza com a verdade,
tão secionada pela gana,
pra escancarar à sociedade,
a frágil limitação humana.
O que sobra no prato,
é a anomalia do preconceito,
o abrutamento da cobiça,
a deformidade social,
resquícios da ablepsia da justiça.