Marcelo Veloso

SOBRAS NO PRATO

O que sobra no prato,

é o retrato da ganância,

que mostra bem a distância,

entre a fartura e a mesquinhez,

entre o desejo e a volúpia,

entre a doação e o descaso,

que frita a decência,

e assa a caridade em ato raso.

 

O que sobra no prato,

é o ornato da insolência,

que demonstra como há ineficiência,

entre a disposição e a concessão,

entre o sentimento e a ajuda,

entre a opção e o tratamento,

que apodrece a empatia,

e descarta o respeito como um excremento.

 

O que sobra no prato,

é o substrato da estupidez,

que faz distinção, com acidez,

entre o apoderado e o desvalido,

entre o escorreito e o pechoso,

entre a crueza e a ternura,

que intoxica a gratidão,

e joga no lixo a brandura.

 

O que sobra no prato,

não são apenas restos, dos excessos,

nem arestos de processos,

nem a vicissitude irônica,

é o lampejo da idiossincrasia,

que nem semeia nem brota fruto,

pelo enraizado fugaz na carestia.

 

O que sobra no prato,

é a indelicadeza com a verdade,

tão secionada pela gana,

pra escancarar à sociedade,

a frágil limitação humana.

 

O que sobra no prato,

é a anomalia do preconceito,

o abrutamento da cobiça,

a deformidade social,

resquícios da ablepsia da justiça.