Juca Santos

O ESCRITOR DE CARTAS

Meu filho, eu preciso falar-te um momento,

Não é um lamento

Nem reclamação...

Sei que estais crescido, bonito e formado,

Feliz, bem casado,

Mas, preste atenção.

 

O seu nascimento foi iluminado.

Por Deus enviado

Foi muito bem vindo.

Em tempo de crise, eu desempregado,

Porém, deslumbrado

Que menino lindo!

 

Passamos apertos e dificuldade,

Com muita vontade

E morando alugado,

Faltava-nos muito e se fartava pouco

Lutei como um louco

Pra vê-lo educado.

 

Amor sempre tinha e limites também.

Um homem de bem

Eu queria formar

Sua mãe e eu, com necessidade

E você a vontade,

Sem nada faltar.

 

Não sei onde foi que a gente errou.

O tempo passou,

Nós envelhecemos.

E toda alegria, desculpe a franqueza,

Tornou-se tristeza,

Foi o que colhemos.

 

Você foi embora, buscar o sucesso,

Querendo progresso

E de certo venceu.

E aqui estamos: tristes sem carinho

Morrendo sozinhos

E você esqueceu.

 

Não quero dinheiro, terreno, poder...

Só quero te ver

Antes da partida.

De tanto lutar em serviço forçado,

Foi abreviado

Meu tempo de vida.

 

Não tenhas vergonha da origem nossa,

Da minha mão grossa,

Da simplicidade.

Se lembre que nós com toda pobreza

Mostramos grandeza

De honestidade.

 

Terminei a carta, ao dono entreguei,

Pra casa rumei

Fingindo ser forte

Fui pelo caminho pedindo a Deus,

Que com os filhos meus

Me desse mais sorte.

 

Nesse mesmo dia visitei meus pais,

Brinquei muito mais

Do que sempre fiz.

Eu pobre, sem nada, sem terra ou riqueza,

Mas com a certeza

De que sou feliz.

 

Eu, naquele tempo, vivia liberto,

Meu mundo era perto,

A vida era flor

Cercado de gente carente de tudo,

Eu com pouco estudo

Já era escritor.