Eu quero pedir perdão
Por não cumprir meu papel.
Se me fiz desrespeitoso,
Se agi de forma cruel.
Se me satisfiz das flores
E em troca joguei o fel.
Peço perdão ao cordel
Por cada rima que errei,
Por cada verso que fiz,
E bem não metrifiquei.
Cada letra que escrevi
E cada frase que falei.
As violas que toquei
Encostado ao coração.
Companheira indispensável
Na voz da minha canção.
Peço perdão pelas vezes
Que errei a afinação.
Se errei em cada lição
Da minha Geografia.
Quando neguei um sorriso
Por já ter chorado um dia.
Por ensinar sem saber
E omitir quando sabia.
Por te negar um bom dia
Ou não estender a mão.
Por responder com o silêncio.
Por não prestar atenção.
Punir quem não merecia
E promover sem distinção.
Venho pedir remissão
Por esconder a verdade.
Por ter negado o carinho
A quem ama de verdade.
Falar, te amo, mentindo
E trair sem necessidade.
Por ver naturalidade
No ato de covardia.
Por sentir prazer no luxo,
Comprando o que não podia.
Por vender o que não tinha
E usar o que não devia.
Desculpas eu pediria
A cada um cidadão
Por não ter votado certo
Por ver a corrupção
Se firmando em nossos lares
E corroendo a nação.
Por não ter visto o irmão
Passando necessidade.
Ter visto de camarote
O show da incapacidade.
Espetáculo de omissão
E sucesso de impunidade.
Por ter ouvido a verdade
De quem se sentia dono.
Ter visto como normal
A estética do abandono.
Ver tanta gente com fome
E nunca ter perdido o sono.
Por ter usado o abono
Pra esconder o errado.
Por ter pago com dinheiro
A remissão do pecado.
Por levar sempre vantagem
Sem ficar preocupado.
Por um dia ter tirado
Seu fio de esperança.
Por não fazer minha parte
Trair sua confiança.
E por sempre ser fracassado
Na minha própria mudança.
Ter tirado da lembrança
A voz do aprendizado.
A força da competência,
Apagado o resultado.
Ter deletado o caminho
Do bem que foi ensinado.
Por tudo que fiz de errado
Achando que estava certo.
Ter agido como tolo
Pensando que era esperto.
Por ficar sempre distante
Mesmo estando assim tão perto.