Querido amigo,
Hoje é dia 25 de maio e a humanidade nunca deveria ter se aglomerado em cidades.
Não sem antes conhecer o que é um substantivo coletivo.
Que um peixe é diferente de um cardume.
Que uma uva é diferente de um cacho.
Que uma pessoa é diferente de uma comunidade.
Porque só assim se tocariam que seus atos de adoração ao próprio umbigo ferem o umbigo dos outros.
Tô falando isso porque abriram um espaço aqui perto de casa em plena quarentena.
E eles deram uma festa de vibrar as janelas de madrugada, nos tirando o sono que já custa a vir.
Tenho certeza que seu lema é: \"Vamos curtir a vida encurtando a vida alheia.\"
Mas eu sinceramente não entendo o que tanto comemoram.
Talvez seja o recorde diário no número de mortos.
De verdade, não entendo de onde vem o dinheiro pra tanto churrasco.
Talvez eles se aproveitem dos corpos cuja a vida se esvaiu.
Desculpe as palavras fortes, só que existem algumas crenças que não dá pra entender.
Como o Papai Noel, a fada do dente, a inexistência do coronavirus.
Ah, como meu dedo coça pra apertar os números do disk aglomeração.
Mas sei que é fácil punir uma ação, difícil é corrigir o caráter.
Só queria que entendessem que o direito de um termina onde começa o do outro.
Enfim, querido amigo, descobri que em terra de cegos, quem vê o outro simplesmente não é visto.
Em terra de egos, também.
Por enquanto.
Com amor,
Seu amigo