Esse homem que é teu marido,
que te acaricia em tua casa,
é o mesmo homem que tortura, nas prisões,
é o mesmo homem que oprime, entre algemas.
Esse homem que beija tua filha,
humilha outras jovens, sem arrependimento,
friamente, sem indulgência, nessas armadilhas,
no arrebatamento dessa sordidez profunda.
Essa mão, desse homem, que te afaga,
é a mesma que se arma para aterrorizar,
é a mesma que te provoca profundas cicatrizes,
que dissemina terror, flagelos, hostilidade.
Esse membro que te penetra,
te faz resplandecer em gozo,
é o mesmo que viola a jovem trêmula,
nesses desejos secretos, obsceno, entre gritos e dores.
Esse homem que educa teus filhos,
é o mesmo que mata, nas negras sombras, de um quarto, a esmo.
É o homem que provoca angústias, infortúnios.
No refúgio da tua casa é esse o homem que arrebata teus desejos.