Nuanças, e o sol parte...
Ema Machado
Na memória retenho nuanças, um arco-íris em meio a tons cinza e resquícios de lama. Tantas tempestades, tantos naufrágios... Na pele cicatrizes, porém, não mais fortes que das feridas da alma.
Das poucas cores que restaram, passam apenas num filme, denominado saudade...
Eflúvios exalaram, desfiz-me de frascos vazios, da roupa apertada, da maquiagem. Aos poucos, os olhos perdem o brilho, a pele o viço e os aromas de mocidade.
Em noites vazias ouço as paredes. Dizem aos gritos o que antes não ouvia, que, ainda que as enfeite com alegria e arte, o vazio é pintura sombria.
Sonhos agora são barcos disformes, não detenho mais o controle dos remos. Águas turvas, embora pareçam calmas, não há um porto seguro.
Não culpo o tempo, entendo, não o perdemos. Perde-se no tempo, tudo por se ater ao passo, sem apreciar a jornada. Busca-se um destino tendo os olhos fechados. Não há tempo para apreciar o caminho, nem flores ao longo da estrada. Assim, lembramo-nos das pedras, espinhos, dos pés cansados, das tempestades. Não percebemos a carícia dos ventos a brincar na beleza do horizonte. Nem nos deixamos assentar no meio da tarde, apreciar o sol que parte. Quando percebe- se, a noite chega, já é tarde...
Ema 04/02/2022