Matheus Maia

Viagem pra Canaã

Desde a terra roxa do norte, 
De onde sai a esperança do amanhã, 
Até às estradas canaviais do corte 
Vejo à frente Canaã 

Cidade de pouca gente 
De estradas curtas e lamacento, 
Impõe fé no carro de crente
E lá vem pancada com muito vento 

Os dois barzinhos já vão fechando 
O populacho vai caminhando 
Rumo as suas casas com a saideira
Tomando rápido que a chuva marca pedreira

Na esquerda, o campo de futebol 
Esquecido pelo tempo
Lembra daquela vez? Quando marquei o primeiro tento
Que não volta, em 96, naquele velho sol 

Chegando na casa da minha tia 
Marcada pela terra roxa na calçada
Esse lote traz a dívida
De manchas profundas em toda a alçada

Que desce marcando o passado 
Formando famílias sob convenção 
Trazendo violência por uns trocados 
Na pobre mulher vai criando um vergão 

Ao entrar nesta casa de muita lembrança 
A infeliz nostalgia fica um tanto envergonhada
Pois as paredes denunciam a herança 
Da agressão, traição e dependência fincada

Uma terra encantada descobriu ser um abismo

Onde cada vida cresce em vício tragado

Para aprender aquilo que nunca foi dito 
Que Canaã é terra que mata e nega fiado

Longo canavial, percorrendo o horizonte 
Com o verde que abre a memória 
Casebre de tanta fama, de tanta história
Lembrei logo da casinha Belo Monte 

Rememorei: de um tempo em que muitos queriam voltar
De outros que visam esquecer 
De poucos que buscam exaltar 
Em meio a tantos que esperam chorar e morrer