Jefferson P. Garcez

A busca

“Eram três da madrugada, sempre três da madrugada. Eu não conseguia dormir. Deitado em um colchão surrado jogado na cerâmica fria, minha mente martelava em busca de uma ambição ou, pelo menos, um propósito.                                                                      

Levantei-me, coloquei o moletom, peguei a caneta, o meu velho caderno e fui à praça da cidade. “Se nessa madrugada os céus me revelarem o caminho, anotarei para não mais esquecer.” Pensei eu. Chegando lá, sentei-me no primeiro banco que vi, olhei para o céu escuro...mais um pouco...um pouco mais... Sim, sim, ironicamente, eu não fui respondido. Nem uma estrela brilhava ali, a lua estava lá, e o céu estava muito escuro para me oferecer alguma luz.

   Um tempo depois vi se aproximando outra pessoa — um rapaz. E, como quem não queria nada, mas querendo, assentou-se ao meu lado. Não olhei seu rosto para lembrar se o conhecia, apenas olhei às mãos — tinha um caderno. Dez, vinte, trinta minutos se passaram, e até então nenhuma palavra entre nós.         Observando seus movimentos com cautela, percebi quando ele abriu o caderno... “O que ele vai escrever?” Pensei comigo mesmo. Mas logo após ouvi um sorriso sarcástico vindo dele, e olhando, percebi o motivo. Estendendo a minha mão, perguntei:

— caneta?

Pegando o objeto da minha mão, ele respondeu com um sussurro:

— merda, esqueci a minha.

Mas quando abriu o seu caderno, não conseguiu nada além de apenas abrir o caderno. Então, o peguei de sua mão junto com minha caneta e escrevi para ele ler: “apenas aproveite o silêncio da madrugada à luz da lua, o lar dos poetas e das putas.”.

    Duas horas depois segui o meu rumo e ele, o dele. Não vi o seu rosto, não lembro-me da sua voz, mas sei exatamente o que ele sentia. Estou convicto de que aquele indivíduo estava em busca do mesmo que eu.”

                                  Por Jefferson P. Garcez