À medida que envelhecemos, conferimos menor importância às coisas materiais, àquelas triviais que ao longo da vida nos fazem “perder tempo”. Importamos menos com o jeito de vestir, a maneira de sorrir, deixamos de competir, com o tempo, com o vento e até com o espelho.
O espelho a partir daí deixa de ser oponente e nos mostra tão somente as marcas que o tempo nos conferiu, tatuagens de outrora, mas que observadas agora são como troféus adquiridos nas batalhas da vida.
Com o tempo, o espelho nos mostra que somos falíveis, que somos humanos e jamais soberanos do tempo. O tempo, senhor da razão, nos mostra que sabedoria é aquilo que nos mantém de pé, às vezes chamamos de fé, de esperança, às vezes é uma criança que sem malícia ou segundas intenções, mostra-nos um mundo despido das ilusões, onde a realização e a felicidade estão aqui, no momento presente, naquele sorriso que nasce de repente.
Hoje quando olho no espelho, muito mais que as marcas do tempo ou os cabelos grisalhos, enxergo poesias, sim, poesias e canções de uma vida inteira. Pedaços, retalhos de sonhos que tive, sonhos que realizei, sonhos que precisei adiar, conquistas que às vezes pouco consegui comemorar, mas que formam minha história, constroem minhas memórias.
O tempo e o espelho já não são meus inimigos, hoje são aliados, fomentam em mim um pouco da sabedoria dos passarinhos, que voam, que cantam, que jamais se espantam com os precipícios da vida. Por isso hoje quando um espelho encontrar é assim que estarei, apto a voar, planar pela vida, entre as flores, as cores, e a esperança de lhe encontrar e sempre recomeçar!
Jose Fernando Pinto