Arlindo Nogueira

A ESCRAVATURA

Mocambos e mucamas escravatura

Revela o homem de pés descalços

Que nos cafezais deixou seu rastro

Assim como lágrimas lá no casarão

Do tratamento cínico do seu patrão.

Escravos da África lutando por si

Deixavam sua pátria distante daqui  

Pro tráfico negreiro da exploração

 

Roçando na mata a pele morena

Tudo se apequena na cena há dor

Medo do dono descrença da cor

Sonhos dormidos e transicional

“Ser ou não ser” era só figural         

Casa dos Escravos do abandono

Saíam da Porta do Não Retorno 

Da Ilha de Gorée lá do Senegal         

 

A terrível vida dentro da senzala

Donde nuca mais voltaria à África

Magras crianças mulheres mágicas

Olhos fitos no mundo da desilusão

Labor nos engenhos do calo da mão

Do confinamento como ser estranho

A mala escondida cheia de sonhos

Tudo era socado com mão de pilão

 

Lembrança palpita um triste vazio

Ensombrecer que marca nosso chão

Há vários séculos teve a escravidão

Um ferrão de vespa produzindo fel

Até que um dia veio um anjo do céu

Vestido de mulher com magistratura

Pela Lei áurea aboliu a escravatura

Rainha dos escravos Princesa Isabel