Certa vez, João foi pescar no lago torto
Foram horas tentando
A raiva subia enquanto os peixes desciam
Poderia largar aquele emprego
Mas não, ainda aguardava pescar
Anoiteceu e no primeiro canto das corujas
Algo surgiu nas águas
Eram os peixes chegando
João finalmente pescaria!
Que homem de sorte!
Entretanto, todas aqueles belezuras não vinham morder a ísca
Esperavam outra coisa, no céu, entre as árvores do horizonte
O pescador fracassado ficou assustado!
Peixes vivos fora d’água?
Sonho! Por favor, que seja um sonho!
Desejando assim, ela surgiu
Diversos raios beijavam as folhas das árvores
Como se quisesse abrir caminho
E chegava nas águas
Atingindo em flechas cada peixe
Não morriam, antes reviviam
João sentia um calor nos pés
Ele nunca tinha experimentado aquilo
Se quer saia de casa
No máximo ia ao bar, vender os poucos peixes
Dormia cedo e evitava qualquer contato humano
Ela surgia ainda mais
Tinha um aspecto glorioso
Luz semelhante ao sol
Mas com a bondosa diferença
De não matar ao olhar
Só podia ser divina
Aquilo, que o deixava admirado
E os peixes, apaixonados
Depois de algumas horas
João percebeu que a grande donzela se movia
E já começava se esconder nas árvores do outro lado
E se nunca mais a visse?
Sem lembrar de pescar, corria
Corria rápido sem atenção no chão
Tropeçando nas raízes de cada árvore
Pisando em seu próprio pé
Fugindo da pescaria ou procurando alguém que fugia
E ela o viu correndo
Mas mesmo assim também corria
Parece que não se importava com o coitado
Ambos se olhando e fugindo
Como a escuridão foge da luz
João estava muito longe quando parou
Demoraria dias para voltar ao lago torto
Então soluçou um pranto feio
Parecendo bebê esfomeado
Chorou tanto que nem percebeu o tempo passar
Novamente era noite, e a donzela o encarava
Quando criou coragem, declamou a beleza daquele luar!
Sei que ela ficou emocionada
Nem apareceu por inteira, acredito que por vergonha
Ainda com tudo aquilo, a donzela insistia em ir embora
O canto, grito ou choro de João não eram suficientes
Talvez fosse necessário algo maior, que fizesse-o visto por ela
Mas nem as coisas maiores adiantavam…
O miserável faltava perder a vida por ela
E assim, desistiu de tentar
A lua, ao contrário, o ama
E todos os dias espera João no lago torto
Confiante de que algum dia
O miserável pescador compreenderá
Sua diferente forma de dizer “amar”
Uma voz silenciosa no luar