Assim que der e puder
Quero descalço pisar a terra úmida
Sob o sol sentir o sal do suor na pele
O colorido das flores dilatando as pupilas
Correr de contra ao vento pra tentar voar
Da doçura do mel, corpo e alma alimentar
Em qualquer lugar estar esperando a noite
Ver surgir no azul escuro o brilho das estrelas
Minguante ou cheia, a luz do luar contemplar
Mesmo que seja longe, ir beber água na bica
Na capela do povoado com fé fazer oração
Sentar no chão de frente à casa do caboclo
Escutar seus causos raros pra sentir emoção
Admirar a moça cheirosa e suas belas tranças
Até mesmo fazer-lhes uns versos carinhosos
Agradar o gato, o cachorro magro animado
Ser premiado com o belo sorriso das crianças
Quando der e puder
Quero voltar pra dentro de mim mesmo
Redescobrir os reais valores contidos no Sêr
Nutrir, resgatar a criança, fazê-la de novo viver
Sair da mesmice ilusória de tempos modernos
Retirar o invólucro plástico da vida sem temer
Como disse o poeta n\'um momento de lucidez:
\"Viver e não ter a vergonha de ser feliz\"
\"Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.\"
Cláudio Reis