Claudio Reis

QUANDO DER E PUDER

Assim que der e puder
Quero descalço pisar a terra úmida 
Sob o sol sentir o sal do suor na pele
O colorido das flores dilatando as pupilas
Correr de contra ao vento pra tentar voar
Da doçura do mel, corpo e alma alimentar
Em qualquer lugar estar esperando a noite
Ver surgir no azul escuro o brilho das estrelas
Minguante ou cheia, a luz do luar contemplar

Mesmo que seja longe, ir beber água na bica 
Na capela do povoado com fé fazer oração 
Sentar no chão de frente à casa do caboclo
Escutar seus causos raros pra sentir emoção 
Admirar a moça cheirosa e suas belas tranças 
Até mesmo fazer-lhes uns versos carinhosos
Agradar o gato, o cachorro magro animado
Ser premiado com o belo sorriso das crianças 

Quando der e puder
Quero voltar pra dentro de mim mesmo
Redescobrir os reais valores contidos no Sêr
Nutrir, resgatar a criança, fazê-la de novo viver
Sair da mesmice ilusória de tempos modernos
Retirar o invólucro plástico da vida sem temer
Como disse o poeta n\'um momento de lucidez:
\"Viver e não ter a vergonha de ser feliz\"
\"Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.\"

Cláudio Reis