Paulo Luna

Rota de não chegada

Quando esse frio

que vem do teu olhar vazio

me enche de pavor

eu fico quieto

vejo as nuvens pararem entre os prédios

uma velha torta sorrir sem dentes

haveria virgens tolas, a chorarem de paixão?

 

Quando esse vazio

que vem do teu olhar frio

me enche de temor

eu quero correr

das sombras que passeiam pelo chão

dos mistérios que se ocultam atrás de mim

da fechadura que me olha atenta

 

Quando esse pavor

que vem do teu olhar de medo

me enche de frio

eu fico tonto

pego as mãos e guardo-as nos bolsos

fecho os olhos e deito-os no chão

abro a boca e espero um grito fugir

 

Quando esse temor

que vem do teu olhar de tédio

me enche de vazio

eu paro calado

fecho a janela e apago a luz

e olho pelas frestas das telhas

a nudez clara do Sol