A BELEZA DOS TRIGAIS
Já vi a imagem celeste refletindo no mar
Vi pagarem promessas beijando o Santo
Já vi revoada de aves sob a luz do luar
E vi alegria da volta entre riso e pranto
Já vi chuva de luzes de estrelas cadentes
Vi a criança febril dormitar no acalanto
Já vi a flauta do mago domando serpentes
Vi maltrapilho sorrir sem teto, sem manto
Já vi a rosa se abrir na manhã orvalhada
Vi a Bela dormir com um beijo de encanto
Já vi cantar Rouxinol na primavera florada
E vi a sereia trovar o marinheiro com canto
Já vi eterna paixão oculta nos madrigais
Vi a musa das telas exalando quebranto
Já vi cumprir-se na terra, divinos sinais
Vi as coisas incríveis, excelsas, portanto
Eu apenas não vi as minhas íris carnais
Relegando você no que viso e decanto
Subestimo a razão enlouquecido demais
Com dotes de homem e o siso de infanto
Por Deus! Muito além da fulgência do sol,
Da beleza da lua ao esmaecer no arrebol
Das rimas ceifadas nos versos que planto
De tudo na vida, eu não comparo, jamais
Quando caminhas pelos dourados trigais...
És mil vezes mais bela...e mais outro tanto