Estou na selva do mundo. É de pedra e hipocrisia,
Há muito seus valores se travestiram e dão medo,
Pois em derredor de mim há ambição e segredo
E uma violência tal que vida hoje talvez seja utopia...
A escuridão é profunda, vejo só vales e precipícios
Que atormentam meus passos atropelando sonhos
Já naufragados pela miséria e uma fome de antanho
Consorciados à sede que vilipendia reais sacrifícios...
Lembrei-me de você, Dante... Hoje é grande espírito
E assim como Virgílio o socorreu, rogo que me liberte
Das entranhas trevosas do social que não tem estepe
E às avessas dissipa a mansuetude e o tear circunscrito.
Em sua obra sei que foi surpreendido pelo benfeitor
Que o guiou pela terra até chegar ao monte purgatório,
Faço da Divina Comédia ponto de excelso observatório
E em suas páginas mergulho na esperança e no amor...
Tenho consciência de que a jornada é longa, há círculos
Infernais onde se expurgam, pecados dos condenados,
Cidades repletas de monstros e demônios lado a lado
E onde habita o Príncipe do Mal, arrombador de túmulos...
Sinto-me escapar por obscuros subterrâneos do planeta
E atingir o cume donde verei o cintilar de lindas estrelas,
Seu braço será meu guia nessa aventura sem sequelas,
Então o sol novamente brilhará e abrirei novas maçanetas.
Das alturas olharei o ambiente... um portal a atravessar
E bastantes níveis a fim de livrar-me dos pecados capitais,
Só então terei distância dum orbe onde meus ancestrais
Sofreram simbiose e fizeram da terra um nefasto lugar.
Pois é, Dante... venha em meu socorro urgentemente,
Ainda bem que me despertou sua obra minha salvação,
Não almejo pulular dentre os planetas até atingir Plutão,
Porém descrever uma parábola para sobreviver decente.
Quero encontrar o Paraíso e ter a certeza dum viver feliz,
Não me sobe à cabeça ter contato com santos e arcanjos,
Não me há amadas de suporte... estarei só nesses campos
E não olvidarei em resgatar irmãos e diluir o que for cicatriz.
Meus preceitos filosóficos e religiosos se darão a conhecer
No exato instante que uma nova capacidade venha à tona,
Desnudar-me-ei das frivolidades que me puseram em coma
Para ter o privilégio de sentir emanações do verdadeiro Ser...
Perante a Divina Comédia cumprimentar uma obra de elite,
Reverenciar a jornada que pode metamorfosear o mundo,
Fazer o homem compreender que o inferno é assaz imundo
E que só no caminho do Bem o céu é verdade, não palpite!
DE Ivan de Oliveira Melo