Marcelo Veloso

SILÊNCIO

A mudez é um proceder exigente,

que tira a retidão do comunicar,

e predispõe a um julgamento.

É como um terreno com semente,

que, com a ausência da lavra,

torna-se árido e em desalento.

 

A língua se mostra impedida,

e a impiedade se fortifica,

dando um sinal frígido e declinante.

É como uma página aberta, não lida,

de um livro léxico, sem sinopse,

deixado no canto, desimportante.

 

E, quando tudo se reduz ao desatino,

em que aparências sugestionam,

e confirmam a indolência do calar,

os pormenores ficam cristalinos,

dando primazia à indecência,

resultando na exatidão do rejeitar.

 

O vazio imperioso se consolida soturno,

sem limites pra situar uma reação,

provoca a inércia, um dioso ócio.

E, nesse revelar sombrio e taciturno,

não há rédeas nem alianças,

apenas um aparentar fútil e indócil.

 

A boca, seca, fica estática,

e os olhos acompanham a sujeição,

que se tornam feridas incuráveis.

Assim, o silêncio vira uma prática,

de fuga, estoicismo e renúncia,

pra se conviver com atos insanáveis.

 

O silêncio é o barulho da insinuação,

é a ausência do alarido,

a conversão do replicar, do imiscuir,

é o jeito de aquilatar transparência,

de esmiuçar o que está consentido,

é o cintilante brilho do estatuir.