A mudez é um proceder exigente,
que tira a retidão do comunicar,
e predispõe a um julgamento.
É como um terreno com semente,
que, com a ausência da lavra,
torna-se árido e em desalento.
A língua se mostra impedida,
e a impiedade se fortifica,
dando um sinal frígido e declinante.
É como uma página aberta, não lida,
de um livro léxico, sem sinopse,
deixado no canto, desimportante.
E, quando tudo se reduz ao desatino,
em que aparências sugestionam,
e confirmam a indolência do calar,
os pormenores ficam cristalinos,
dando primazia à indecência,
resultando na exatidão do rejeitar.
O vazio imperioso se consolida soturno,
sem limites pra situar uma reação,
provoca a inércia, um dioso ócio.
E, nesse revelar sombrio e taciturno,
não há rédeas nem alianças,
apenas um aparentar fútil e indócil.
A boca, seca, fica estática,
e os olhos acompanham a sujeição,
que se tornam feridas incuráveis.
Assim, o silêncio vira uma prática,
de fuga, estoicismo e renúncia,
pra se conviver com atos insanáveis.
O silêncio é o barulho da insinuação,
é a ausência do alarido,
a conversão do replicar, do imiscuir,
é o jeito de aquilatar transparência,
de esmiuçar o que está consentido,
é o cintilante brilho do estatuir.