Arlindo Nogueira

MAMÃE (In memorian)

Uma angelical prenda

Numa fazenda criada

O campo foi sua agenda

Sua vida ali foi traçada

Talvez ninguém entenda

Essa prenda apaixonada

 

Bebeu água lá na sanga

Comeu pitanga no pé

Colar feito de miçangas 

Linda Índia de São Sepé    

Conduziu bois de canga

Tropeou uma saga de fé

 

As rugas no rosto liso

Indicam as primaveras

Faz-se sulcos precisos

Na vida bela da fera

Retrato lindo e altivo

Daquela mãe gaudéria

 

Na luta de muitos anos

Nunca fez nada por média

Sua colmeia foi seu bônus

Segurou firme as rédeas

Cumpriu todos seus planos

Escreveu sua enciclopédia

 

Despacito mamãe foi

No ensombrecer da lida

Nada dela vem depois

Um vazio na despedida

Aquele amor entre dois

Fundiu em uma só vida

 

Marcas de uma heroína

Ficou gravada no trilho

Hoje a saudade é rotina

Dessa flor de tanto brilho

Mamãe é livro que ensina

Contexto é o próprio filho