Roberio Motta

Fresta de luz

Fresta de luz 

Na mais estreita que irradia

Trazida pela janela

O alumiar do teu trabalho

Acalma meu interior

 

O passa luz inda fenda

Como um quadro de luz

Com a leitura do mundo

Como se o mundo fosse só um

 

Em tuas prateleiras vi tuas histórias

Teus mudos mundos

E a fisga ao fundo

Mira a mesma fachada de arco abatido

E as montras laterais

Sob as três janelas retangulares

Ladeadas pela Arte e Ciência seculares

 

Enquanto a platibanda rendilhada

Simpática e meia confusa

Remata tuas janelas

Espalhando versos em vãos

 

De verbos fortes

De palavras doces 

De canções tantas 

Que mesmo se contador eu fosse 

Não teria como matematicar

 

Três pilastras cansadas

E os arcos inda quebrados

Saudosos e marejados

Sem Eça de Queirós

Sem o branco de Castelo

Sem a paz de Guerra Junqueiro

 

 

 

 

E assim segue minha doce alma

Subindo as escadarias

Indo em busca do elo perdido

Do belo, do som do esplendor

Enquanto o cansado Lello

No carro da dignidade no trabalho

Espalha amor aos livros

Espelha seu canto de dor

 

Ao fundo o meio obtuso

meio retângulo

meio confuso

inteiro seria se eu

pequeno que me prometeu

pudesse guardar teu nú

Juntar travesseiro, pena e carmim

Trazer de volta Florbela Espanca

Sem mágoas e sem vossa dor

 

 

Demasiado sigo a procura

Entre becos e berros do vir

Se o escuro dentro de mim

Sem teu tu sem meu eu

É mesmo que eu sinuoso

Feito o douro escorregadio

Vadio tonto envolto de brisa

sem dor e sem sentir teu jasmim.