Fresta de luz
Na mais estreita que irradia
Trazida pela janela
O alumiar do teu trabalho
Acalma meu interior
O passa luz inda fenda
Como um quadro de luz
Com a leitura do mundo
Como se o mundo fosse só um
Em tuas prateleiras vi tuas histórias
Teus mudos mundos
E a fisga ao fundo
Mira a mesma fachada de arco abatido
E as montras laterais
Sob as três janelas retangulares
Ladeadas pela Arte e Ciência seculares
Enquanto a platibanda rendilhada
Simpática e meia confusa
Remata tuas janelas
Espalhando versos em vãos
De verbos fortes
De palavras doces
De canções tantas
Que mesmo se contador eu fosse
Não teria como matematicar
Três pilastras cansadas
E os arcos inda quebrados
Saudosos e marejados
Sem Eça de Queirós
Sem o branco de Castelo
Sem a paz de Guerra Junqueiro
E assim segue minha doce alma
Subindo as escadarias
Indo em busca do elo perdido
Do belo, do som do esplendor
Enquanto o cansado Lello
No carro da dignidade no trabalho
Espalha amor aos livros
Espelha seu canto de dor
Ao fundo o meio obtuso
meio retângulo
meio confuso
inteiro seria se eu
pequeno que me prometeu
pudesse guardar teu nú
Juntar travesseiro, pena e carmim
Trazer de volta Florbela Espanca
Sem mágoas e sem vossa dor
Demasiado sigo a procura
Entre becos e berros do vir
Se o escuro dentro de mim
Sem teu tu sem meu eu
É mesmo que eu sinuoso
Feito o douro escorregadio
Vadio tonto envolto de brisa
sem dor e sem sentir teu jasmim.