Esse medo que me consome, entre tantos medos!
É o medo de perder-te nessa inquieta noite,
nesses impulsos febris de meu corpo distendido,
entorpecido pela angústia desse dia sombrio e chuvoso.
É o medo de saber-te distante, entre lembranças.
Aflito me entrego aos devaneios, nessa escura noite,
esperando tua boca febrenta, úmida, em regozijo.
Extenuado, me perco entre meus medos, buscando-te.
Não resta o tempo de passiva doação, tempo de tuas entregas.
Só resta o medo de perder-te, ironia dolorosa dessa ausência,
nessa perseguição amorosa amiúde, renascem outros medos,
nesse equilíbrio precário dessa luz que precede a madrugada,
atormentando meus passos, idealizando um encontro, tenho medo!
Tantos medos que já nem sei da mansidão do teu corpo,
dos teus odores, invadindo meu quarto entre sombras e dizeres.
Já nem sei dos beijos ardentes, da lua triste e sonolenta de outrora,
acalentando nossos passos, nessa vida errante de amantes!
Esse medo que me consome, desabrocha em mim tédio,
diante da tua recusa, da tua partida, resta minha necessidade carnal,
resta meus devaneios, esse profundo silêncio, atormentando-me.
Errei tantos caminhos. Entristecido pelo tédio, tenho medo!
Medo de perder-te, medo dessas sombras disformes e descompostas,
entre suores e tremores, entre lembranças destoantes do teu corpo,
da tua entrega, dissipando dúvidas de outrora, provocando arrepios,
só existe o anacronismo, esses descompassos entre medos.