Victor Severo

Nobre Defunto.

Sabem quem vem para o jantar?

O defunto que não tarda a chegar.

Amortalhado em fina seda bordada.

Em esquife de madeira trabalhada.

 

Venham logo todos para reconhecer.

Aquele que nos roubou a vida inteira.

Pois o canalha não tarda a apodrecer.

Em sua cela florida de madeira.

 

Queimem incensos, celebrem, tragam velas.

Jubilosos de imensa alegria.

Ganhem as ruas fugindo das favelas.

Comemorem bebendo o grande dia.

 

Sem saber ao certo quem é o finado.

Ou qual pomposo título ostentou.

Se foi juiz, senador ou deputado.

Que felizmente só a morte não burlou.

 

Sabem quem vem para o jantar?

Oh, tão nobre e poderoso convidado.

E como agora não pode mais se exaltar.

Será finalmente pelos vermes devorado.