Sabem quem vem para o jantar?
O defunto que não tarda a chegar.
Amortalhado em fina seda bordada.
Em esquife de madeira trabalhada.
Venham logo todos para reconhecer.
Aquele que nos roubou a vida inteira.
Pois o canalha não tarda a apodrecer.
Em sua cela florida de madeira.
Queimem incensos, celebrem, tragam velas.
Jubilosos de imensa alegria.
Ganhem as ruas fugindo das favelas.
Comemorem bebendo o grande dia.
Sem saber ao certo quem é o finado.
Ou qual pomposo título ostentou.
Se foi juiz, senador ou deputado.
Que felizmente só a morte não burlou.
Sabem quem vem para o jantar?
Oh, tão nobre e poderoso convidado.
E como agora não pode mais se exaltar.
Será finalmente pelos vermes devorado.