Esse desterro que me foi imposto,
foi imposto a todos os velhos, por suas idades,
nesses dias de teimosa persistência e solidão,
nessa melancolia, nessas constantes ausências!
Não tem mais aquelas aventuras,
aquelas cores dos amores delirantes,
das madrugadas frias chegando ao teu quarto.
Não tem mais teus olhos intensos espreitando-me.
Ah, esses nefastos tempos de tristezas!
Esse crepúsculo me sufoca nessas desesperanças,
nesse tempo de mesmices e incertezas.
Não tem volta os meus tempos de desejos.
Só esquecimento entre palavras, entre versos,
entre lembranças na minha casa, entre meus livros,
nessa persistente ausência, nessa desbotada vida,
entre as noites e os dias iguais, nessa idade que marca.
Cansei dos deuses inventados pelos homens,
dessa veneração de imagens, dessas hipocrisias,
das ostentações das igrejas e castelos martirizantes.
Tantas ironias nesses corrosivos dias entre flagelos.
Não há esperança nessa sociedade esfacelada,
entre pesadelos paralisando meus sentidos,
nessa perplexidade, nesses acontecimentos
só me resta esse olhar precário e temoroso.
Nenhum lugar para ir nessa estrada destroçada.
Nenhuma esperança nesses homens assoberbados.
Só melancolia, através da janela, nessa noite enorme.
Resta-me essas feridas no ocaso dessa vida...