GRITO
Talvez eu escreva
que as folhas verdes ainda crianças,
balançam ao vento,
nas copas verdejantes de suas madres enquanto vêem o mundo dos humanos.
Escreva que as nuvens brancas
e luminosas como algodão ao sol
brilham irrequietas no céu azul,
e se movimentam com a velocidade
dos ventos indiferentes ao mundo dos homens.
Ah! Os insensatos e insensíveis homens,
tão certos que são superiores
e que são os primeiros na cadeia alimentar,
tão certos que podem mudar o mundo inteiro,
explorar e modificar sua geografia.
Não conservam o planeta que habitam,
desejam colocar os pés em Marte
e desvendar sua geologia, cobiçam
transformá-lo em um novo habitat
para os espaciais passeios humanos.
Mas a verdade precisa ser dita,
mesmo que meu alcance seja pouco,
não reverbere nunca na multidão,
e meu grito seja baixo e rouco.
Tudo o que vivemos no presente
é um mundo cruel e salvo engano,
uma pandemia ainda infinda,
gente sem lar, emprego e pão.
Gente pedindo esmolas nas ruas,
outras dormindo sobre o duro chão
das calçadas de grandes capitais,
e de tantas cidades ainda pequenas.
Todos pedindo ajuda estão, gritam
ao vento tantas necessidades
que o governo já não dá vazão,
auxílios pequenos e mensais
que mal dá para o triste pão
que não chegam a todos que precisam.