Seu nome é brasileiro.
Tem 35 anos e é torcedor do Flamengo.
Ama a vida, seus filhos e sua Maria de tal,
(que ligou as trompas no INSS).
Mora no Catumbi, lá em cima, bem alto, no morro!
D´onde desce para ganhar seu salário (mínimo).
Desce para tomar uma cervejinha gelada com os amigos.
... e fazer uma fezinha no fogo do bicho da esquina mais próxima.
Sempre sobe o morro cansado, esperançado.
Já é noite, contempla a cidade iluminada, melancólico.
Olhos vazios, consumindo todo o fulgor nessa idade tenra.
Estranhamente faminto nesse refúgio injusto.
Sua Maria de tal, da fé,
casada com esse tal brasileiro esperançoso!
Tem uma cicatriz bem aqui, ali nela!
Resquício do último parto difícil, entre lágrimas.
Trabalha lá embaixo, na Urca.
Ganhando menos que o mínimo, essa Maria!
Que o preço do feijão e arroz, que não compensa
... que não cabe no poema do Gullar.
Deitam-se cansados, brasileiro e Maria.
Não se incomodam com a dor, nem com o leite,
que falta no barraco, nem com o barraco no morro.
Se abraçam, se confundem, se aporrinham!
Silenciosamente, nesse quadro, neste embrulho, nesse quarto.
Nesse mundo de miséria e dor, no atropelo dessa vida.
Maria não mais se amofina em seus pensamentos.
Cada manhã, brasileiro desce peregrino, esse morro.
Dá sua mão à Maria de tal, da fé!
Prosseguindo na labuta pelo mínimo, resignados!
Contemplados pelos filhos tantos, nesse morro inerte.