tem dias, tem esses dias que são desgastantes, que são um lembrete que talvez toda aquela minha escuridão não foi embora
é doloroso me ver assim, ver esse meu lado podre que parece nunca ir embora, ver esses meus vermes espreitando pelas partes comidas de meu cérebro
não sou mais a mesma, nem de antes e nem de agora a pouco, aquela que só sorria se foi e aquela que se consumia morreu, agora eu sou isso, uma versão aprimorada que chegou sem nem marcar hora
fico tentando achar em que versão eu me encaixo, porque não sou mais sorrisos, mas também não sou mais aquela autodestrutiva, eu aprendi comigo mesma a respirar, na solidão eu me achei e as vezes não entendo esses dias
dias que são uma amostra grátis do que eu era, lembretes que se a gente não se cuida os monstros voltam, que se eu deixar de guardar as portas de minha mente um intruso invade.
os monstros voltam mais fortes, mas tudo bem porque eu também estou mais forte, então fica justo, percebi que monstros, eles nunca vão embora
poque eles vêm daquelas nossas partes sozinhas das partes sem cuidado, das partes machucadas que de vez em quando inflamam, sua pele é feita de pedaços da minha, sua carne é preenchida pelas minhas palavras não ditas, e seu sangue é um compilado de lágrimas nunca derramadas
tenho medo e vocês também tem, porque é apavorante ter que tocar na sua ferida todos os dias para passar remédio, remédio esse que e manipulado de aceitação
nem quando se tornam cicatrizes saram cem porcento, a mente é um órgão que tem pouco potencial de cicatrização, tem vez que mesmo curadas temos que abrir nossas cicatrizes só para ter certeza que não tem farpas lá dentro
e as vezes tem, então você abre e arranca as farpas torcendo para não virar uma hemorragia, as vezes vira, então temos que correr para estancar esses buracos negros que jorram sua sanidade
é um processo, viver, e somos enfermeiros destreinados que rezam para suturar nossos buracos direito, e a cada sutura aprendemos a cuidar melhor de nossas feridas
-a todos aqueles que suturam a própria pele.